AIA - Bernardo Velloso Pimenta

 

      Um dos filmes/documentários mais interessantes que eu já mantive contato até hoje. O processo de identificação e de associação do ser humano com seu próprio ambiente é, além de generalizado, muito peculiar para cada indivíduo. Relacionamo-nos com o espaço ao nosso redor de forma que o transformamos em uma extensão de nosso interior, provavelmente incompatível com os aspectos de outras pessoas. Nesse contexto, a partir do momento em que entramos em contato com o ambiente de outrem, é de se esperar que não nos sintamos confortáveis, especialmente no que diz respeito ao sentimento de lar. Curiosamente, é também possível entender um pouco de quem é o habitante de determinado espaço apenas estudando-o, sem ser necessária sua presença. Isso mostra claramente como que, de forma instantânea, os seres humanos se associam ao local onde vivem e se fundem a ele, transformando-o em parte de si, confortável para si e tradução de si.  

     Para a primeira versão de meu objeto vestível, eu concebi uma ideia e, utilizando uma fita de cetim verde e duas pulseiras, construí o protótipo de meu trabalho. A ideia é, através das limitações do objeto, explorar-se o espaço da melhor maneira possível. A fita é presa uma das mãos de duas pessoas e em uma de suas pernas juntas em apenas um buraco, como se fosse uma corrida de três pernas. 

    Após a leitura do texto de Flusser, uma nova reflexão acerca dos objetos surgiu em minha mente. Os seres humanos, a partir do momento em que passou a usufruir das matérias para concepção e construção de elementos que o ajudassem em seu cotidiano, passaram a manipular algo que, de certa forma, é seu manipulador. Isso pode ser explicado com o exemplo do carro no texto, que apresenta a ideia de que criamos o carro para nos locomover mais rapidamente, porém estamos limitados a seu uso para fazê-lo, bem como estamos restritos pelos engarrafamentos, acidentes de trânsito, leis de trânsito etc. Isso mostra que o objeto, etimologicamente associado a problema, é um obstáculo utilizado para atenuar outros obstáculos, ou seja, um ciclo problemático do qual nunca será possível se desvencilhar. Sempre buscaremos praticidade e conforto nos objetos, mas eles sempre nos limitarão à sua própria natureza e utilização. 

 

 O espaço à minha volta nunca foi muito valorizado por mim. Na verdade, eu valorizo o que eu coloco nele, ou melhor, o que eu faço desse espaço através de outros elementos. Entretanto, o que o próprio espaço é e como meu corpo se relaciona com ele nem sempre esteve em meus pensamentos cotidianos. Através dessa atividade, um simples cubículo dentro de um espaço que utilizo diariamente tornou-se palco de possibilidades. O vazio se tornou cheio e possível. O tato me possibilitou entrar em sintonia com o espaço e me moldar nele. Tudo isso foi muito interessante. Explorar sempre é algo enriquecedor. Sempre. 

 INSTRUÇÃO     Compartilhar as manias/tiques em grupo, conversar sobre eles, escolher um e experimentar essa escolha no espaço de formas diversas (repetição, exagero, rapidez, lentidão etc.). Câmera como expectadora, sugestão: câmera filmar a maior parte do espaço possível ou fazer cortes em diferentes ângulos.